Espinheira-santa

Nome científico: 
Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek
Família: 
Celastraceae
Sinonímia científica: 
Celastrus spinifolius Larrañaga
Partes usadas: 
Folhas
Constituintes (princípios ativos, nutrientes, etc.): 
Terpenos, triterpenos, óleo essencial, taninos, glicolipídeos, alcaloides.
Propriedade terapêutica: 
Antidispéptica, antiácida, antiasmática, contraceptiva, antisséptica, tônica, analgésica, cicatrizante, diurética.
Indicação terapêutica: 
Tumores estomacais, ressaca alcoólica, feridas, úlceras, azia, gastralgia, úlcera gástrica, protetor da mucosa gástrica.

Planta da Farmacopeia Brasileira
A infusão de espinheira-santa tem uso científico comprovado como antidispéptico, antiácido e protetor da mucosa gástrica. Para mais informações consulte a monografia.

Origem, distribuição
A cancorosa é originária da Região Sul da América do Sul. No Brasil é comum nas matas dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e sul do Mato Grosso. Fora de nosso país é encontrada no nordeste da Argentina, norte do Uruguai, Paraguai e na Bolívia.

Descrição
Árvore de pequeno porte (atinge 5m de altura), ereta, multicaule, forma touceiras densas com perfilhos oriundos das raízes. As raízes são fortes e numerosas, avermelhadas externamente e amarelas no seu interior.

O caule é verde-acinzentado, lenhoso, ereto, ramificado, com muitos ramos inermes. Os ramos novos são verde-brilhantes, angulosos, com quatro ou mais quilhas.

As folhas são simples, alternas, coriáceas, lanceoladas, oblongas ou elípticas; a base é aguda, às vezes obtusa, peninérvea; as margens têm de 3 a 9 pares de dentes espinhosos e ápice agudo. O pecíolo é curto e as lâminas são glabras, verde-escuras e brilhantes superiormente e verde-claro-foscas na face inferior.

As flores são muito pequenas, sésseis ou com pedicelo muito curto, actinomorfas, diclamídeas, pentâmeras; o cálice é persistente, com cinco sépalas arredondadas, ciliadas, avermelhadas e unidas na base. A corola tem cinco pétalas livres, ovaladas, amarelo-esverdeadas. Os estames são cinco, alternos com as pétalas, e com filetes achatados.

O ovário é súpero, ovóide, rodeado pelo disco, bicarpelar e bilocular, com um ou dois óvulos por lóculo. O estilete é único, com dois estigmas lobulados. A inflorescência se dá em fascículos axilares de três a vinte flores, e o florescimento ocorre de junho a agosto.

O fruto é escuro quando maduro. As sementes são elipsóides, avermelhadas, em número de uma ou duas por fruto, cobertas por um arilo branco pouco espesso e sucoso.

Uso popular e medicinal
Internamente é usada como antiasmática, contraceptiva, em tumores estomacais e contra ressaca alcoólica. Externamente, como antisséptico em feridas e úlceras.

As mulheres paraguaias a utilizam como antifertilizante. Existem relatos de que suas folhas agem como recuperador do fígado nas enfermidades causadas pelo alcoolismo. Em antigos engenhos de Santa Maria (RS) folhas de erva-mate eram moídas e acrescidas de 10 a 15% de M. ilicifolia, sendo a mistura muito apreciada e procurada para combater azia e gastralgia.

Vários autores relatam que M. ilicifolia é usada como antisséptico, tônico, analgésico, cicatrizante, diurético e contra úlceras gástricas.

Na composição química foram constatadas a presença de vários grupos fitoquímicos destacando-se os terpenos (maitenina, tringenona, isotenginona II, congorosinas A e B, ácido maitenóico), triterpenos (friedelanol, friedelina), óleos essenciais (friedenelol), taninos (principalmente os gálicos epicatequina, epigalocatequina, galato de epigalocatequina), glicolipídeos (mono, di, tri, tetragalactosildiacilglicerol, sulfoquinovosildiacilglicerol) e alcaloides (maiteina, maitanprina, maitensina) [13].

No Brasil é conhecida como "espinheira-santa" em alusão às suas folhas que possuem bordas espinhosas e propriedades medicinais.

Técnicas de cultivo
Propagação. Podem ser usados os métodos de campo e de laboratório. No primeiro tem-se o processo gâmico por meio das sementes, e os agâmicos, tais como por rebentos nascidos da raiz (divisão de touceira) e por estacas. O método laboratorial in vitro é a multiplicação por meristema, usando tecidos da base do pecíolo, de brotos novos e de gemas.

Espaçamento. Como é planta de sub-bosque, deve ser plantada entre espécies pioneiras sombreadoras, de preferência leguminosas como a pata-de-vaca, maricá, leucena, guandu, etc., em espaçamento 4 x 4 m. Nas entrelinhas destas sombreadoras são plantadas as cancorosas, que ficarão separadas entre si e das sombreadoras por 2 m.

Clima. Subtropical, sendo encontrado em todo o Rio Grande do Sul, especialmente na Depressão Central e no Planalto. Como a cancorosa é planta de sub-bosque e de locais úmidos, quando plantada em plena luz, seu desenvolvimento é lento e sua folhagem torna-se amarelada. Locais iluminados induzem a floração e frutificação abundantes. Na seca, paralisa o seu crescimento, ficando porém latente.

Solos. Prefere os solos férteis, humosos e úmidos. Suporta alagamento temporário, mas não é planta de banhado. Vegeta melhor nos solos de aluvião à beira dos cursos d´água. Nos locais altos só vegeta junto às nascentes de água.

Tratos culturais. Capinas ao redor da planta, adubações orgânicas e controle do excesso de sombreamento são os principais.

Pragas e doenças. Quando cultivada em local com excesso de sombra, pode ocorrer o aparecimento de manchas prateadas nas folhas que sugerem a ocorrência de um problema fúngico. Não se verificou até o momento nenhuma praga nesta cultura.

Colheita. Os princípios ativos estão concentrados principalmente nas raízes, ocorrendo em menor escala nas folhas (que são o objeto das colheitas). As folhas devem ser colhidas no 2º ou 3º ano de vida, devido ao seu crescimento muito lento, mesmo em condições ideais. Não deve ser retirada toda a folhagem, basta de 50 a 60% da copa da árvore. A colheita de folhas é feita no fim do verão e a de raízes no inverno. O rendimento é variável dependendo da idade, das condições climáticas e de cultivo.

Cuidados pós-colheita

  1. Pré-seleção: consta de uma seleção a campo ou no galpão, visando a eliminar folhas e raízes danificadas e de mau aspecto.
  2. Limpeza: é feita uma limpeza das folhas e/ou raízes para retirar terra e impurezas.
  3. Secagem: pode ser feita uma pré-secagem à sombra, em local ventilado, e uma secagem complementar, em estufa. Não é necessária uma vigilância - como no caso das aromáticas, que não devem ser secas a mais de 38°C (35-38°C), mas a temperatura não deve passar de 50°C.
  4. Embalagem: nunca deve ser feita em vasilhas plásticas. De preferência usar caixas de papelão, sacos novos de algodão ou juta, de papel grosso, e mesmo caixas de madeira desde que não-resinosas.
  5. Armazenagem: deve ser feita em local seco, com baixa umidade relativa do ar, livre de poeira, fungos, roedores e insetos. Todas as embalagens deverão estar etiquetadas com os nomes (popular e científico), data da colheita, lote e peso líquido.

 Colaboração

  • Rosa Lúcia Dutra Ramos, Bióloga, FEPAGRO (Porto Alegre, RS).

 Referências

  1. CASTRO, L. O.; RAMOS, R. L. D. Descrição botânica e cultivo de M. ilicifolia. Porto Alegre: FEPAGRO, 2002. 12p. (Circular Técnica, 19).
  2. AHMED, M. S. et. al. High-performance liquid chromatographic separation and quantitation of meytansinoids in Maytenus ilicifolia. Journal of Chromatography, Amsterdan, v. 213, n. 2, p. 340-344, 1981.
  3. BERNARDI, H. H. et. al. Algumas pesquisas sobre a "espinheira-santa" ou "cancorosa" Maytenus ilicifolia M., usada como remédio popular no Rio Grande do Sul. Santa Maria: Faculdade de Farmácia e Medicina, 1959. 46 f. (Trabalho realizado no Centro de Pesquisas Bioquímicas das Faculdades de farmácia e de Medicina de Santa Maria).
  4. CARLINI, E. L. A. Estudo de ação antiúlcera gástrica de plantas brasileiras: Maytenus ilicifolia (espinheira santa) e outras. Brasília: CEME/AFIP, 1988. 87 p.
  5. COIMBRA, R. Notas de fitoterapia. Rio de janeiro, 1958.
  6. GONZALES, M. ; LOMBARDO, A. ; VALLARINO, A. Plantas de la medicina vulgar del Uruguay. Montevideo: Talleres Graficos, 1937. 150 p.
  7. JOLY, A. B. Botânica: introdução à taxonomia vegetal. 4. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1977.
  8. LOURTEIG, A. Flora del Uruguay III - Mayacaceae, Zygophyllaceae, celastraceae, Lythraceae y Primulaceae. Montevideo: Museo Nacional de Historia Natural, 1963.
  9. NOVARA, L. J. Flora del Valle de Lerma. Aportes Botanicos de Salta. Ser. Flora. Herbario MCNS, Salta, v. 2, n.10, ago. 1993.
  10. PIO CORREA, M. Dicionário de plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura e Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, 1984. v. 6, 77 p.
  11. SCHULTZ, A.R.H. Introdução à botânica sistemática. 4. ed. Porto Alegre: UFRGS, 1984. 414p. il.
  12. SIMÕES, C.M.O. et al. Plantas da medicina popular no Rio Grande do Sul. 3. ed. Porto Alegre: UFRGS, 1998. 174 p. il.
  13. Revista Brasileira de Farmacognosia (2009): Revisão da M. ilicifolia - Contribuição ao estudo das propriedades farmacológicas - Acesso em 17 de janeiro de 2016
  14. CPQBA UNICAMP (2002): Agrotecnologia para o cultivo da espinheira-santa - Acesso em 17 de janeiro de 2016
  15. The Plant List: Maytenus ilicifolia - Acesso em 17 de janeiro de 2016

GOOGLE IMAGES de Maytenus ilicifolia - Acesso em 17 de janeiro de 2016