Alecrim

Nome científico: 
Salvia rosmarinus Spenn.
Família: 
Lamiaceae
Sinonímia científica: 
Rosmarinus officinalis L., Rosmarinus angustifolius Mill.
Partes usadas: 
Folhas e flores.
Constituintes (princípios ativos, nutrientes, etc.): 
Óleo essencial (borneol, pineno, canfeno, cânfora, cienol, acetato de bornila), diperteno, rosmaricina, tanino, saponina, ácidos orgânicos, pigmentos, flavonoides.
Propriedade terapêutica: 
Estimulante digestivo, antiespasmódica, estomacal, vasodilatadora, antisséptica, antidispéptica, anti-inflamatória.
Indicação terapêutica: 
Dores reumáticas, depressão, cansaço físico, gases intestinais, debilidade cardíaca, inapetência, cicatrização de feridas, dor de cabeça de origem digestiva, problemas respiratórios.

Planta da Farmacopeia Brasileira
Alecrim tem uso científico comprovado como antidispéptico e anti-inflamatório.

Origem, distribuição
A região do Mediterrâneo.(litoral mediterrâneo ocidental) é o centro originário da espécie. Introduzida e cultivada na Europa, América do Norte, partes da Ásia e outras. 
 
Nome em outros idiomas
  • Inglês: rosemary, benenden blue rosemary
  • Francês, alemão: romarin, rosmarin
  • Espanhol: romero
Descrição

Alecrim é uma planta aromática de grande destaque  tanto no uso popular quanto na pesquisa científica recente.

Arbusto perene, sempre-verde, de hábito variado: pode crescer ereto ou prostrado, chegando a alturas típicas de 0,5 m até cerca de 2 m ou mais, dependendo das condições.

Folhas finas e alongadas, coriáceas, persistentes. Parte superior verde-escura e brilhante, parte inferior com pelos ou tomento branco-acinzentado, margens ligeiramente enroladas para baixo (“revolutas”). 

Flores pequenas, bilabiadas, geralmente em tonalidades azul-violeta ou branca-azulada, agrupadas em inflorescências axilares. 

Planta adaptada a solos bem drenados, preferencialmente em clima mediterrânico, de exposição ao sol, podendo tolerar condições mais adversas (calor, aridez) e solos pedregosos ou arenosos. 

 

O termo “rosmarinus” provavelmente vem do latim ros marinus, que significa “orvalho do mar”, aludindo à sua ocorrência junto a zonas costeiras mediterrâneas ou à neblina marítima. Em diversas culturas, o alecrim foi associado à lembrança, à memória, à fidelidade. Devido ao forte aroma e aos óleos essenciais que contém, tornou-se uma das ervas mais reconhecidas e "marca registrada" da culinária mediterrânea.

Uso popular e medicinal

Usado como tônico do sistema nervoso central e indicado em casos de esgotamento cerebral, excesso de trabalho e depressão ligeira. 

O modo de uso comum é Infusão das folhas frescas ou secas na forma de compressas, decoto das folhas na forma de loção, na forma de pomada usando-se o suco concentrado.

 Dosagem indicada

  • Dor de cabeça de origem digestiva. Em 1 xícara de chá, coloque uma colher de sobremesa de folhas picadas e adicione água fervente. Abafe por 10 minutos e coe. Tome 1 xícara de chá antes ou após as principais refeições.

Problemas respiratórios 

  • Xarope: para 1/2 litro de xarope adicionar o suco de 4 xíc. de cafezinho de folhas frescas, tomar 1 colher de sopa a cada 3 horas.
  • Infusão: 1 xíc. de cafezinho de folhas secas em 1/2 litro de água, tomar xíc. de chá a cada 6 horas.
  • Tintura: 10 xíc. de cafezinho de folhas secas em 1/2 litro de álcool de cereais ou aguardente, tomar 1 colher de chá 3 vezes ao dia em um pouco de água; para a maioria das indicações, inclusive hemorróidas.
  • Pó - as folhas secas reduzidas a pó têm bom efeito cicatrizante.

Antidispéptico e anti-inflamatório

Alecrim é recomendado pela ANVISA como antidispéptico e anti-inflamatório.

Componentes: folhas secas (2 g); água q.s.p (150 mL). Preparar por infusão considerando a proporção indicada na fórmula.  Uso interno: acima de 12 anos, tomar 150 mL do infuso, 15 minutos após o preparo, 3 a 4 vezes entre as refeições.

 Atenção: não usar em pessoas com gastroenterites e histórico de convulsões. Não utilizar em gestantes. Doses acima das recomendadas podem causar nefrite e distúrbios gastrintestinais. Não usar em pessoas alérgicas ou com hipersensibilidade ao alecrim.

Outros usos

Um estudo divulgado em 2020 abordou as aplicações do alecrim na culinária, indústria cosmética, aromaterapia e como aditivo na alimentação animal.

Aplicações na indústria alimentícia
O alecrim é uma erva aromática amplamente usada na maioria das cozinhas e em muitas misturas de especiarias. Seu extrato, em particular, é valorizado como aditivo alimentar.

Como ingrediente culinário e de bebidas

  • Folhas de alecrim podem ser adicionadas a qualquer tipo de carne incluindo peixes, independentemente do método de cozimento. Constitui valioso acréscimo a leguminosas, couve-flor, batatas e manteiga de ervas.
  • Molhos e panificação: combina muito bem com tomates, seja frescos ou em molhos à base de tomate,e pode ser usado com sucesso em panificação (pão, pãezinhos ou pizza).
  • Marinadas e guarnições: pode ser um ingrediente de marinadas à base de vinagre e óleo. Tanto as folhas quanto as flores podem ser usadas em saladas, cristalizadas como guarnição de alimentos, ou misturadas com açúcar e creme e adicionadas a mousses de frutas.
  • Bebidas: usado para infundir licores, vodkas amargas aromatizadas, vinho de ervas, hidromel e cerveja.
  • Como aditivo alimentar e antioxidante: o extrato de alecrim foi aprovado pela Comissão Europeia para uso na indústria alimentícia como um antioxidante, aplicável em produtos com teor de gordura.

Aplicações na indústria cosmética
O alecrim, devido às suas propriedades e fragrância extraordinárias, tem vasta aplicação na indústria cosmética.

  • Cuidados com a pele e cabelo: as propriedades antioxidantes do alecrim fazem com que ele seja incluído em cosméticos destinados a manter a pele jovem e saudável. As mesmas propriedades antioxidantes ajudam a prolongar a vida útil dos cosméticos. Alecrim é usado em produtos de cuidados diários para o cabelo, visando nutrir e adicionar brilho.
  • É particularmente adequado para cabelos oleosos e com tendência à caspa. É recomendado para cabelos escuros, pois os compostos presentes no alecrim produzem um suave efeito de escurecimento. É eficaz contra a queda e o enfraquecimento do cabelo (prematuro ou relacionado à idade) devido ao seu efeito estimulante nos folículos capilares, aumentando a pressão vascular e a circulação no couro cabeludo.

Perfumes e aromaterapia

Óleos e extratos são usados em colônias, adicionando um agradável aroma de cânfora com toque de pinho.

Um dos cosméticos europeus mais antigos, a "Água da Hungria" (ou Água da Rainha da Hungria, também conhecida como "espírito de alecrim"), combinava alecrim e lavanda, foi bastante usada como tônico refrescante e para massagem corporal. Água da Hungria é considerada precursora das atuais águas de colônia.

Aplicações na aromaterapia são principalmente para tratamento de beleza e relaxamento. O óleo de alecrim é um dos produtos aromaterapêuticos mais populares, acreditando-se que possua propriedades revigorantes, refrescantes, estimulantes e aquecedoras, atuando como um tônico e impulsionando o sistema imunológico. É usado como óleo de massagem ou aditivo para banho por suas propriedades aquecedoras, sendo benéfico para relaxar músculos rígidos e fatigados.

Aplicações na agricultura e nutrição animal

O alecrim encontra aplicações na agricultura como aditivo para ração animal. Suas propriedades antimicrobianas e fitotóxicas abrem caminho para seu uso como biopesticida.

O alecrim foi investigado como aditivo alimentar, demonstrando melhorar a qualidade do leite de cabra, do leite e da banha/sebo de porcos e cordeiros.

  • Cabras leiteiras: extrato em baixa dose (800 mg/d) em cabras leiteiras organicamente manejadas levou à redução do teor de gordura do leite, aumento da produção de leite, redução da contagem de células somáticas e aumento de ácidos graxos poli-insaturados no leite, além de encurtar o tempo de coagulação.
  • Cordeiro: a carne de cordeiros cujas mães foram alimentadas com destilado de folhas de alecrim apresentou níveis mais baixos de oxidação lipídica, contagens bacterianas reduzidas e melhor estabilidade de cor durante o armazenamento. Polifenóis, como o ácido rosmarínico, carnosol e ácido carnósico, foram transferidos da dieta da ovelha para a carne do cordeiro.
  • Suínos: a suplementação na dieta de porcos da raça Nero Siciliano com extrato de alecrim resultou no aumento dos ácidos graxos Ômega-6 e alguns Ômega-3 (ácido linoleico e ácido araquidônico) na banha, e na melhoria da proporção PUFA:SFA (ácidos graxos poli-insaturados: ácidos graxos saturados).

Uso como biopesticida e fungicida
O alecrim exibe fortes atividades antimicrobianas contra bactérias e fungos,
sendo particularmente eficaz contra espécies patogênicas de plantas como os bolores Fusarium isolados de grãos de milho secos. O óleo essencial de alecrim foi investigado por seu efeito no Botrytis cinerea, o fungo responsável pela doença do mofo cinzento do tomate, inibindo o crescimento fúngico em mais de 50% sob vapor volátil.

  • Ação herbicida: as propriedades fitotóxicas do alecrim foram observadas ao reduzir a germinação e o crescimento de ervas daninhas como Stachys arvensis e Lolium rigidum.
  • Desenvolvimento de biopesticidas: a combinação das propriedades fitotóxicas e da atividade antifúngica do alecrim pode abrir uma oportunidade para o desenvolvimento de um biopesticida que combine os efeitos herbicida e fungicida.

Diante de tantas evidências, pode-se considerar o alecrim como uma verdadeira ferramenta multiuso na indústria moderna, como um tempero que realça o sabor e a longevidade dos alimentos, um agente de beleza que nutre a pele e o cabelo, um protetor agrícola que cuida da saúde dos animais e das plantas no campo.

 Colaboração

  • Sérgio Antonio Barraca (ESALQ/USP), julho de 1999.
  • Martha Batista, Pedagoga e Terapêuta Naturalista (Florianópolis, SC).

 Referências 

  1. Encyclopedia Britannica (2025). Rosemary - Acesso em 8 de novembro de 2025
  2. The Royal Horticultural Society 2025 (RHS). Rosmarinus officinalis - Acesso em 8 de novembro de 2025
  3. Pomeranian Journal of Life Sciences (2020). Properties and use of rosemary - Acesso em 8 de novembro de 2025
  4. Acta Sci Pol Technol Aliment (2013). An in-depth review on the medicinal flora Rosmarinus officinalis - Acesso em 8 de novembro de 2025
  5. MDPI (Cosmetics 2020). Rosmarinus officinalis: An Ancient Plant with Uses in Personal Healthcare and Cosmetics - Acesso em 8 de novembro de 2025
  6. Weleda. Botanical Profile: Rosemary - Acesso em 8 de novembro de 2025
  7. Universidade de Évora (Museu Virtual da Biodiversidade). Rosmarinus officinalis - Alecrim, alecrim-da-terra, alecrinzeiro - Acesso em 8 de novembro de 2025
  8. Botanic Gardens of South Australia. Rosmarinus officinalis - Acesso em 8 de novembro de 2025
  9. Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira. ANVISA, 1ª ed., pg. 57, 2011.
  10. PANNIZA, S. Plantas que Curam - Cheiro de Mato. IBRASA, São Paulo, 4a ed., 1997.
  11. PINTO, J. E. B. P et all. Compêndio de Plantas Medicinais. Universidade Federal de Lavras (UFLA/FAEPE), 2007.
  12. Cultivo de Horta Medicinal - Acesso em 8 de novembro de 2025
  13. LUSH. Água da Rainha da Hungria - Acesso em 8 de novembro de 2025
  14. Image (no changes were made): Filo gèn', CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons
  15. The World Flora Online Plant List - Acesso em 8 de novembro de 2025

GOOGLE IMAGES de Salvia rosmarinus - Acesso em 8 de novembro de 2025