Erva-tostão

Nome científico: 
Boerhavia diffusa L.
Família: 
Nyctaginaceae
Sinonímia científica: 
Axia cochinchinensis Lour.
Partes usadas: 
Erva inteira, raiz.
Constituintes (princípios ativos, nutrientes, etc.): 
Ácidos graxos, aminoácidos, fitoesterois, siringaresinol, flavonas, galactose, hentriacontano, hipoxantina, liriodendrina, punarnavine, triacontana.
Propriedade terapêutica: 
Diurético, anti-inflamatório, hipotensivo, antiespasmódico, analgésico, anticonvulsivante, antibacteriano, antiviral, hepatotônico, hepatoprotetor, estimulante menstrual.
Indicação terapêutica: 
Distúrbios hepáticos, icterícia, hepatite, esvaziamento da vesícula biliar, pedras da vesícula biliar, distúrbios do trato urinário, cistite, nefrite, gonorreia, inflamações internas.

Origem, distribuição
B. diffusa origina-se possivelmente nos trópicos do continente europeu. Tem distribuição pan-tropical. Ocorre em toda a África tropical. Nativa do Brasil, é abundante ao longo das estradas e nas florestas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Na Índia é encontrada nas regiões mais quentes. 

Nome em outros idiomas

  • Inglês: hogweed, common hog weed, spreading hogweed, common hogweed, pigweed, tarvine
  • Francês: ipecacuanha de Cayenne
  • Espanhol: hierba de cabro

Descrição [3,6]
Planta herbácea, ciclo bianual, base decumbente, atinge de 20 a 40 cm de altura, pêlos curtos e abundantes. Caule sublenhoso na parte inferior, bastante ramificado. Raiz principal pivotante. Folhas opostas, limbo de ovalado-cordiforme a reniforme, margem inteira ou serrilhada. Inflorescência em panícula terminal. Flores bractéolas de invólucro livre, lanceoladas e agudas, cor rosa ou avermelhada. Fruto antocarpo obcônico, de 1,0 a 1,1 mm de largura, espesso, de coloração castanho-amarelada ou acinzentada.

Em campo esta espécie pode ser facilmente identificada pelas folhas opostas e desiguais. Propaga-se por meio de sementes.

Considerada invasiva, ocupa áreas destinadas à olericultura (a exemplo do alho, cebola, couve-flor e tomate), cultivos de maracujá, pomares de goiaba, laranja etc.. Hospedeira do pulgão Aphis gossypii. Planta apícola.

Uso popular e medicinal

A raiz de erva-tostão ocupa posição de destaque na medicina herbal do Brasil e da Índia. É considerada extraordinariamente benéfica no tratamento de distúrbios hepáticos (incluindo icterícia e hepatite). É empregada como diurético para estimular o esvaziamento da vesícula biliar, tratar distúrbios do trato urinário e renais, cálculos renais, cistite e nefrite.

No sistema indiano Ayurveda (onde é conhecida por punarnava, "que rejuvenesce ou renova o corpo") as raízes são empregadas como um diurético, ajuda digestiva, laxante, tratamento da gonorreia e de vários tipos de inflamação interna, edema, problemas menstruais, anemia, fígado, além das mesmas enfermidades acima citadas.

Ao longo dos trópicos, erva-tostão serve como remédio natural contra dracunculíase ou dracunculose (ou doença do verme-da-guiné, DVG), um parasita tropical que coloca seus ovos debaixo da pele de humanos e gado. Tais ovos eclodem em larvas ou vermes que comem o tecido subjacente. As raízes da planta são normalmente amaciadas em água fervente, em seguida trituradas e aplicadas como uma pasta ou cataplasma nas áreas afetadas para matar e expulsar os vermes da pele.

No Brasil relata-se o uso em casos de albuminúria (presença de albumina na urina), beriberi (ou avitaminose B1) , insuficiência biliar, cistite, edema, problemas da vesícula biliar, cálculos biliares, gonorreia, verme-da-guiné, hepatite, hipertensão, icterícia, distúrbios renais, cálculos renais, distúrbios hepáticos, auxílio hepático, nefrite, esclerose, retenção urinária e mordida de cobra.

Os componentes encontrados nesta erva incluem flavonoides, esteroides e alcaloides, alguns já documentados com efeito imunomodulador. Em um estudo, a fração de alcaloide da raiz evidenciou dramático efeito na redução da elevação dos níveis de cortisol (produto químico inflamatório produzido no corpo em uma resposta imune) sob condições estressantes. Os alcaloides (e um extrato inteiro de raiz) também impediram uma queda no desempenho do sistema imune indicando uma atividade de modulação imunológica adaptogênica, uma possível utilidade na prevenção da exaustão adrenal.

Os principais produtos químicos vegetais são ácidos graxos (araquídico, behênico, palmítico, esteárico), ácido ursólico (reconhecido pela propriedade anabolizante), ácidos boerhavico, oleáico, oxálico e heptadeciclico, aminoácidos (alanina, prolina, ácido aspártico, ácido glutâmico, glutamina, glicina, histidina, serina, valina, treonina), fitoesterois daucosterol, campesterol  (reconhecido por diminuir os níveis de colesterol LDL, o chamado "mal colesterol"), estigmasterol e sitosteróis, siringaresinol (lignana), boeravinona (A a F), borhavina, borhavona, ecdisona, flavonas, galactose, hentriacontano, hipoxantina, liriodendrina, punarnavine (alcaloide) e triacontana [2].

B. diffusa foi avaliada em experimento com animais. Ratos com hiperoxalúria induzida por etileno glicol foram tratados com extrato aquoso da raiz (100-200 mg/kg) por 28 dias. Observou-se a prevenção da poliúria, perda de peso, hiperoxalúria, distúrbios da função renal e inibição de deposição de CaOx nos túbulos renais [1].

Mais informações sobre as propriedades de B. diffusa estão nas referências [4,5]

 Dosagem indicada [2]

  • Tônico geral do fígado. 1 xícara da erva inteira ou decocção de raiz ou 2 ml de uma tintura 4: 1. Tomar 1 vez por dia. 
  • Doenças do fígado e rim. Tomar a mesma dosaagem acima, 2 3 vezes ao dia.
  • Diurético natural. 500 mg da raiz em cápsulas ou comprimidos. Tomar 2 vezes ao dia. 
  • Reduzir a dor menstrual, cólicas e sangramento excessivo. 1 xícara da erva inteira ou decocção de raiz ou 1-2 g em comprimidos ou cápsulas. Tomar 2 a 3 vezes ao dia.

 Referências

  1. Revista Brasileira de Plantas Medicinais (2013): Plantas medicinais no controle de urolitíase - Acesso em 23 de abril de 2017
  2. Raintree (Tropical Plant Database, 2012): erva-tostão - Acesso em 23 de abril de 2017
  3. MOREIRA, H.J.C; BRAGANÇA, H. B. N. Manual de Identificação de Plantas Infestantes. FMC Agricultural Products, São Paulo (SP). 2011.
  4. Plants for a Future: Boerhavia diffusa - Acesso em 23 de abril de 2017
  5. Plant Resources of Tropical Africa (PROTA4U): Boerhavia diffusa - Acesso em 23 de abril de 2017
  6. SCRIBD: Extrativismo não-madeireiro e desenvolvimento sustentável na Amazônia - Acesso em 23 de abril de 2017
  7. Fitday: The importance of campesterol - Acesso em 23 de abril de 2017
  8. Image: Wikimedia Commons (Author: J.M.Garg) - Acesso em 23 de abril de 2017
  9. The Plant List: Boerhavia diffusa - Acesso em 23 de abril de 2017

GOOGLE IMAGES de Boerhavia diffusa - Acesso em 23 de abril de 2017