Milho

Nome científico: 
Zea mays L.
Família: 
Poaceae
Sinonímia científica: 
Mayzea cerealis var. gigantea Raf.
Partes usadas: 
Estilos, estigmas.
Constituintes (princípios ativos, nutrientes, etc.): 
Saponinas, fitoesterois, alantoína, betaína, taninos, resinas, borracha (goma), fermentos, flavonoides, antocianidinas, sais minerais.
Propriedade terapêutica: 
Diurético, antiespamódico, anti-inflamatório, abortivo, emenagogo.
Indicação terapêutica: 
Gota, edema, cistite, uretrite, litíase urinária.

Nomes em outros idiomas

  • Inglês: maize, corn silk
  • Italiano: granturco, mais
  • Francês: mäis
  • Alemão: mais
  • Haiti e Martinica: mayi

Origem, distribuição
O milho seria originário de América do Sul, ainda que existam algumas dúvidas sobre seu real lugar primogênito devido a não ter sido conhecido em estado silvestre. Alguns indicam que seria originário do Peru, outros indicam Colômbia e América Central. Alguns historiadores fizeram referência a origem asiática (Birmânia, atual
Myanmar), porém esta teoria tem pouca credibilidade.

O certo é que o milho é cultivado atualmente em todo o mundo, sendo os EUA o principal produtor. Junto ao arroz e o trigo constituem os principais alimentos vegetais para a humanidade.

Descrição
Trata-se de uma planta herbácea de alto porte (até 2,5 m de altura), caracterizada por apresentar caules eretos com folhas alternadas, largas, lanceoladas, com bainhas, de margem áspera e cortante; flores masculinas reunidas em panículas terminais e femininas sésseis reunidas em espigas de tamanho grande rodeadas por brácteas membranosas entre as quais emergem numerosos estilos filiformes.

O fruto aparece em cariópside, redondo, brilhante, de cor amarelada, inserido no eixo engrossado da inflorescência.

É o cereal mais importante da América devido aos seus amidos na alimentação e na indústria. Tem-se encontrado restos fósseis do pólen de milho que datam de 6.000 - 6.500 anos de antiguidade. Na América começaram a cultivar a partir do século XV, existindo algumas referências de seu conhecimento pelos astecas.

Os nativos peruanos extraíam desta planta alcaloides os quais eram utilizados em cerimoniais religiosos. Cristóvão Colombo levou em 1502 amostras deste cereal para a Espanha e dali ganhou uma rápida expansão até ao sul da Europa, norte de África e Oeste de Ásia.

A partir de sua chegada à América do Norte, expande-se à China durante o século XVI.

Uso popular e medicinal

As partes utilizadas são os estilos e estigmas (conhecidos popularmente como "barba de choclo") e a fração insaponificável de óleo de germe de milho. Estilos e estigmas são colhidos quando o fruto está maduro.

A separação do gérmen a partir da trituração do grão permite - através do mecanismo de pressão e calor (previamente lavado para eliminar restos de amidos e glúten) - obter o óleo de milho cru, o qual logo é clarificado por filtração e decantação e posteriormente refinado para eliminar os ácidos graxos por esfriamento e filtração. 

Uma das principais atividades farmacológicas reconhecidas aos estilos do milho é diurética, exercida através da ação conjunta entre flavonoides, goma e sais potássios, de acordo com provas realizadas em ratas com o extrato hidroalcoólico dos estilos em doses de 40 ml/kg em administração intragástrica. Esta atividade demonstrou ser de tipo uricosúrica e fosfatúrica, complementada com uma suave ação antiespasmódica sobre vias urinárias, o que equivale dizer que os estilos de milho podem ser indicados em casos de gota, edemas, cistite, uretrite e litíases urinária de tipo fosfatídica, oxálica e úrica.

Quanto ao resto dos componentes pode-se citar que os fermentos têm demonstrado possuir propriedades hipoglicemiantes, os taninos atividade adstringente e a alantoína ação demulcente, anti-inflamatória e reepitelizante (recuperação do epitélio). Em relação à alantoína tal atividade reepitelizante tem demonstrado utilidade em casos de úlceras gástricas, provavelmente através de uma ação estimulante sobre a síntese prostaglandínica, via prostaglandin-sintetasa.

O óleo do germe de milho apresenta abundante ácidos gordurosos insaturados (oleico, linoleico e, numa menor medida, palmítico e esteárico), o qual resulta útil em casos de hipercolesterolemia, devendo-se administrar cru e sem esquentar. Quanto à fração insaponificável do óleo de germe de milho, a mesma possui propriedades anti-inflamatórias e antirradicais atuando de maneira similar a frações insaponificáveis do abacate e soja. Esta mesma fração tem demonstrado propriedades antibacterianas em hamsters, sendo empregada sob a forma de pastas dentais na abordagem de piorreia alveolodental.

Quanto a tintura elaborada com os estilos de milho, demonstrou ser inativa in vitro frente à Neisseria gonorrhoeae (bactéria causadora da gonorreia) evidenciado por halos (auréolas) de inibição menores que 6 mm. Por sua vez, o extrato aquoso de milho administrado por via intraperitoneal em ratos tem demonstrado possuir propriedades antialérgicas, evidenciada através de uma resposta de tipo imunomoduladora com presença de "interferon".

Milho está registrado na Farmacopeia Nacional Argentina (6ª Ed.), Alemanha, Bulgária, Coréia, China, Egito, França, Holanda, Índia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Suíça, USA, Vietnam e Iugoslávia e outros países. No EUA figura no Generally Recognized as Safe (GRAS), significando "espécie segura para uso humano".

Composição química

Estilos e estigmas. Contém saponinas (10%), fitoesterois (sitosterol e estigmasterol), alantoína, betaína, taninos (11-13%), resinas, borracha (goma), fermentos, flavonoides, antocianidinas, abundantes sais minerais (potássio, cálcio, magnésio, sódio e ferro), traços de óleo essencial (0,1- 0,2% destacando-se o carvacrol e outros terpenos em menor medida ), ácido salicílico (0,3%), ácido maizérico, mucílagos, vitaminas C e K, etc.

Sementes. Abundantes ácidos graxos polinsaturados: ácidos oleico (37%), linoleico (50%), palmítico (10%) e esteárico (3%); aminoácidos, abundante amido, carotenoides, dextrina, substâncias nitrogenadas (zeína, edestina, maicina), vitamina E (uma das principais fontes para sua obtenção), etc.

Folha: hordenina (alcaloide), ácidos orgânicos e heterósidos cianogenéticos. Análises aproximadas do grão do milho por 100 g: calorias 334; proteínas 9,2 g; gordura total 3,8g; hidratos de carbono 65,2g; água 12,5 g; fibra 9,2 g; cinzas 0,4%; cálcio 15 mg; flúor 0,06 mg; fósforo 256 mg; ferro 1,5 mg; magnésio 120 mg; potássio 330 mg; sódio 6 mg; retinol 90 m g, tiamina 0,36 mg; riboflavina 0,20 mg; niacina 1,5 mg; piridoxina 0,40 mg; ácido ascórbico (traços), tocoferol 2,2 mg.

 Efeitos adversos e/ou tóxicos
Os frutos do milho (grãos e estigmas) constituem um alimento de amplíssimo consumo, carente de efeitos adversos e/ou tóxicos.

Em geral as distintas formas galênicas do milho são muito bem toleradas, observando alguns casos de hipotensão arterial a sua atividade diurética, em especial durante o verão. Foram reportados poucos casos de dermatites ou urticária por contato com polens e o amido. A dose efetiva diurética por via intravenosa em coelhos seria de 1,5 mg/kg, sendo considerada muito inferior a DL50 para a mesma via que alcançaria os 250 mg/kg.

 Contraindicações
O extrato aquoso dos estilos de milho administrados por via intravenosa em coelhos demonstrou efeito oxitóxico presumivelmente através de um mecanismo colinérgico, pelo que não se recomenda seu emprego durante a gravidez.

Interações medicamentosas
Excessivas doses de estilos e estigmas de milho podem interferir com terapias hipoglicemiantes e anti-hipertensivas, devendo-se controlar neste último caso a espoliação excessiva de potássio.

 Usos etnomedicinais - Formas galênicas
Popularmente se empregam os estilos ou estigmas de milho por suas propriedades diurética em casos de edemas, oliguria, hipertensão arterial, infecções urinárias, hiperuricemias, gota. Também se emprega como abortivo e emenagogo. Em todos os casos se emprega a infusão a 5-10%, a razão de 2-3 xícaras por dia.

No Haiti empregam a semente moída em aplicação local para a consolidação de fraturas. Em Martinica empregam a deccoção ou infusão dos estilos em casos de sarampo.

Na República Dominicana recomendam a decocção dos estilos e/ou sementes junto a Spermacoce assurgens (botoncillo, hierba de toro ou tabaquilli são os nomes conhecidos em espanhol) para cólicas de rim.

Em Trinidad e Tobago empregam as sementes como antidiarreico.

Em Cuba aplicam as sementes moídas como cataplasma em casos de tombo, torceduras e fraturas.

Na China empregam a bainha ou coberta do grão para tratar diarreias em crianças e o grão inteiro em casos de metrorragias.

Em forma de extrato fluido (1 g = 40 gotas) se administram 150-300 gotas diárias repartidas em 3-4 porções (tomas). Em forma de extrato seco (5:1) se pode prescrever sob a forma de cápsulas a razão de 300 mg por cápsula, 2-3 vezes ao dia. Em forma de xarope (10% do extrato aquoso) a razão de 1-5 colheres de sopa diárias. A tintura (1:10) em base a 30 gotas, 3 vezes ao dia.

Outros usos
O amido de milho (maizena) serve como alimento nutricional e antídoto de intoxicações por iodo e bromo. A maizena está conformada pelos grânulos separados do grão de milho, assim a dextrina (procedente da hidrólise parcial do amido) tem aplicações alimentícias ou dietéticas.

Na indústria o milho apresenta propriedades dessecantes e lubrificantes (por exemplo, em luvas cirúrgicas). As plantas verdes são empregadas como forragem e ensilagem para consumo animal. Embora a palha não seja comestível, alguns povos da América Central e do Sul a empregam como condimento para obter um sabor doce em alimentos.

Na farmácia é empregado o óleo de milho como solvente de injetáveis. Por sua vez a zeína (uma proteína constituinte do milho) é utilizada por suas propriedades desintegrantes e diluentes na elaboração de comprimidos ou tabletes. Em forma de glicerito se utiliza como emoliente base para supositórios.

 Colaboração

  • Dilvo Bigliazzi Júnior, Médico (Canavieiras, BA). O texto original foi publicado pela Associacion Argentina de Fitomedicina. Tradução: Carla Queiroz Becerra, estagiária do Centro de Informática na Agricultura USP/ESALQ, 2005.

 Referências

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GOOGLE IMAGES de Zea mays - Acesso em 5 de março de 2017