Lobeira

Nome científico: 
Solanum lycocarpum A. St.-Hil.
Família: 
Solanaceae
Sinonímia científica: 
Não há segundo o sistema de classificação APG III.
Partes usadas: 
Raiz, caule, folha, fruto.
Constituintes (princípios ativos, nutrientes, etc.): 
Solamargina, solasonina, rebeneosideo A, rebeneosideo B, 12-hidroxisolasonine, solasodina.
Propriedade terapêutica: 
Calmante, sedativo, antiepilético, antiespasmódico, anti-inflamatório, diurético, antifúngica, anticancerígena.
Indicação terapêutica: 
Lesões dérmicas, micoses, vermes, barriga-d'água, esquistossomose, diabetes, obesidade, dislipidemia, hepatite, asma, tosse.

Nome em outros idiomas

  • Inglês: wolf apple, wolf's plant, wolf's fruit

Origem, distribuição
Nativa do Cerrado brasileiro.

Descrição
Árvore de pequeno porte, com 2 a 5 m de altura. Folhas alternas, de consistência firme, densamente recobertas por tricomas (“pêlos”), margens irregulares, variando de 16-28 cm de comprimento. As flores são hermafroditas com 5 sépalas cuja porção soldada permanece aderida ao fruto. O fruto tem cor verde e pode chegar a 15 cm de diâmetro.

É o fruto favorito do lobo-guará (Chrysocyon brachiurus), representando boa parte da dieta deste animal. Acredita-se que tenha ação terapêutica contra o verme-gigante-dos-rins (Dioctophyme renale), que parasita animais domésticos e silvestres. É geralmente fatal no lobo.

É tida como espécie invasora em áreas devastadas pelo homem e em pastagens.

Uso popular e medicinal
Popularmente os frutos da lobeira são utilizados por apresentar efeitos calmante, sedativo, antiepilético, antiespasmódico e anti-inflamatório. Entretanto é mais indicado para o tratamento de diabetes mellitus e da obesidade, reduzindo os níveis de colesterol, utilizando-se o polvilho obtido do fruto seco por extração aquosa, sob maceração com agitação. Após a extração, filtra-se o material e deixa sob refrigeração por 24 h para a precipitação do polvilho. Este polvilho é lavado sucessivamente com água e seco e armazenado sob refrigeração [5]

Estudos fitoquímicos sobre a composição química do polvilho de lobeira mostram a presença de solamargina, solasonina, rebeneosideo A, rebeneosideo B, 12-hidroxisolasonine e solasodina, esse um alcaloide esteroidal com configuração estereospecífica para a semi-síntese de hormônios estereoidiais [5].

Além da diabetes e obesidade, o polvilho é utilizado no tratamento de dislipidemias, hepatite, asma e tosse. Tem efeito inibitório sobre os níveis séricos de glicose e efeitos positivos na atividade hipocolesterolêmica. O fruto in natura tem efeitos sedativos, diuréticos, anticonvulsivante e exercem características teratogênicas [2].

O fruto tem valor reconhecido pelos nutrientes. Um estudo dos teores de vitamina C, açúcares solúveis totais, sacarose, fósforo e ferro relata que são equivalentes ou superiores aos do abacaxi, banana, laranja, manga e outros frutos [6].

Foi realizado a prospecção fitoquímica das diversas partes do vegetal (folhas, caule e raiz). Segundo os autores, foi possível através do uso da cromatografia convencional em sílica gel e sephadex isolar além de um éster, compostos da classe dos esteróis [1].

Um trabalho relatou a obtenção do extrato alcaloídico do fruto seco da lobeira (contém cerca de 1,5% de glicoalcaloides, constituídos principalmente por solamargina e solasonina), o isolamento dos principais heterosídeos alcalóidicos e avaliou sua atividade esquistossomicida in vitro, empreendida contra vermes adultos de Schistosoma mansoni (causador da esquistossomose, popularmente conhecida como "barriga d'água"). O extrato alcaloídico mostrou potencial atividade esquistossomicida [3].

Solasonina e solamargina são relatados como substâncias com potencial para as atividades antifúngica e anticancerígena. Fungos dermatófitos são os agentes mais comuns causadores de micoses superficiais em humanos e animais, infectando o estrato córneo da pele, cabelo e unhas. O desenvolvimento da forma farmacêutica para uso tópico contendo extrato alcaloídico de S. lycocarpum é considerado boa alternativa para o tratamento de lesões dérmicas pré-cancerígenas e cancerígenas, não-melanômicas [4].

 Culinária
O fruto tem sido utilizado para produção de massas, substituindo o marmelo na preparação da marmelada. É também consumido na forma de doces e geléias e menos in natura devido aos relatos de citotoxicidade e efeitos teratogênicos.

 Referências

  1. 2o Simpósio Nordestino de Química (2016): Isolamento e caracterização de metabólitos secundários de Solanum lycocarpum da flora cearense - Acesso em 2 de outubro de 2016
  2. Universidade de Brasília (2013): Atividade antioxidante de frutos do Cerrado e identificação de compostos em B. setosa - Acesso em 2 de outubro de 2016
  3. Parasitology Research (2012): Evaluation of the schistosomicidal activity of the steroidal alkaloids from Solanum lycocarpum fruits - Acesso em 2 de outubro de 2016
  4. Universidade de São Paulo (Faculdade de FCFRP, 2012). Heterosídeos alcaloídicos de Solanum lycocarpum: avaliação das atividades contra fungos dermatófitos e câncer de pele - Acesso em 2 de outubro de 2016
  5. Universidade de São Paulo (2007): Caracterização de extratos de Solanum lycocarpum e avaliação da atividade antioxidante - Acesso em 2 de outubro de 2016
  6. Ciência e Agrotecnologia (Lavras, 2003): Análise nutricional da fruta-de-lobo - S. lycocarpum - durante o amadurecimento - Acesso em 2 de outubro de 2016
  7. Imagem: Wikimedia Commons (Autor: João de Deus Medeiros) - Acesso em 2 de outubro de 2016
  8. The Plant List: Solanum lycocarpum - Acesso em 2 de outubro de 2016

GOOGLE IMAGES de Solanum lycocarpum - Acesso em 2 de outubro de 2016