Esta espécie é considerada Planta Alimentícia Não Convencional.
Nome em outros idiomas
- Inglês: pigeon pea, Congo pea, red gram, yellow dahl
- Francês: ambrévade, pois d’Angole
- Alemão: straucherbse
- Espanhol: cachito, gandul
Origem, distribuição
Originária da parte oriental da península da Índia, o cultivo remonta há mais de 3.500 anos. Atualmente é cultivado em todas as regiões tropicais e subtropicais da Europa e Américas.
Descrição
Espécie arbustiva perene, não pioneira, fácil de cultivar e muito produtiva (em média 699 kg/ha). A semeadura ocorre no mês de março, em temperaturas médias para seu desenvolvimento entre 20 a 30°C. A leguminosa é resistente a seca e requer pouca rega devido ao seu sistema radicular profundo.
É um prato típico da culinária de Porto Rico. As sementes são utilizadas na alimentação humana, particularmente em comunidades na Índia (sub-continental), África, regiões do Pacífico e Caribe. Devido ao seu elevado teor de proteína, é utilizado como um substituto para carnes.
As folhas apresentam-se trifolioladas, com folíolos lanceolados ou elípticos, de 4 a 10 cm de comprimento e 3 cm de largura.
Flores apresentam-se em rácemos terminais com 1,5 a 1,8 cm de comprimento, de cor amarela ou amarelo-alaranjado, podendo apresentar estandartes salpicados ou mesmo totalmente púrpura ou avermelhados. A flor tem estrutura característica de autofecundação e a presença de agentes polinizadores (abelhas) aumenta em 97,9% a produção de vagens e sementes.
Frutos são vagens indeiscentes, de cor verde-marrom ou púrpuras, ou mesmo verde salpicadas de marrom, de forma oblonga, com 8 cm de comprimento e 1,4 cm de largura. Produz frutos durante praticamente todo o ano.
As sementes do guandu são caracterizadas como exalbuminosas, pois toda reserva está concentrada nos cotilédones e no eixo embrionário.
Uso popular e medicinal
As folhas e flores de guandu são utilizadas na medicina popular principalmente na região Norte do Brasil na forma de chás contra hemorragia, em gargarejo contra inflamação da garganta, tosse e bronquite.
Em outras regiões são empregadas contra febre, tosse, úlcera, dores diversas e inflamações. São atribuídas a esta planta propriedades diuréticas, adstringente, antidisentérica, febrífuga, laxativa, anti-hemorrágica, vulnerária e antiblenorrágica. Nativos da Guiana Francesa utilizavam as vagens contra infecções pulmonares e infusão dos grãos (sementes) como diurética.
Há relatos científicos da possível associação de Cajanus cajan com a melhora do quadro de pacientes com doença falciforme (veja quadro). Os relatos revelaram que o extrato fervido do feijão guandu trouxera enorme alívio a um paciente com diagnóstico confirmado da doença, implicando posteriormente na decisão dos autores de investigarem tal possibilidade. Alguns estudos têm apontado a cajaminose, fenilalanina e o ácido hidroxibenzóico como os agentes ativos com propriedade antiafoiçamento e a fenilalanina como o princípio ativo do guandu na atuação de reversão de células afoiçadas. Em seu trabalho de especialização, a nutricionista Karen Cordovil analisou o conteúdo de fenilalanina presente em várias leguminosas (soja, feijão guandu, feijão comum, lentilha, ervilha, grão-de-bico) e concluiu que o guandu só perde em maior conteúdo de fenilalanina para a soja. Ela destaca que a inclusão desta leguminosa na alimentação é de vital importância dada a quantidade expressiva de fenilalanina. Além do que apresenta ação terapêutica benéfica sobre eritrócitos falciformes, aumentando sua estabilidade através da inibição do afoiçamento por alguns mecanismos já demonstrados, como o da fenilalanina/ácido hidroxibenzóico. |
Doença falciforme, anemia falciforme ou afoiçamento dos glóbulos vermelhos é uma doença hereditária comum no Brasil. O termo designa um grupo de desordens genéticas cuja característica principal é a herança do gene da hemoglobina S.
Este gene determina a presença da hemoglobina variante S nas hemácias (HbS). Esta hemoglobina faz com que, em determinadas circunstâncias, as hemácias adquiram a forma de foice (daí o nome falciforme ou fenômeno de afoiçamento). Os glóbulos vermelhos em forma de foice se agregam e dificultam a circulação do sangue nos pequenos vasos do corpo. Com a diminuição da circulação ocorrem lesões nos órgãos atingidos, causando crises de dor. A doença originou-se na África e foi trazida às Américas na época da escravidão. No Brasil, distribui-se com frequência no região Nordeste, onde é maior a proporção de antepassados negros. |
Na pecuária as vagens do guandu podem ser reduzidas a farinha para alimentar o gado. Na agricultura é aplicada como adubo verde e pode também ser utilizada como combustível.
Na indústria, seu isolado proteico seco poderia ser empregado para alimentação humana na formulação de produtos cárneos, substitutos da carne, molhos e sopas devido as propriedades de solubilidade da proteína em função do pH, capacidade de absorção de água e óleo, capacidade de formação de gel e capacidade de formação e estabilidade da emulsão.
Pode ainda ser também aplicado em produtos de padaria e confeitaria pela adequada probidade de formação e estabilidade da espuma. Vários cultivares lançados pelo Instituto Agronômico do Paraná e EMBRAPA são produzidos em solo brasileiro.
Estudos em nível citoquímico e bioquímico das reservas de cotilédones de guandu do cultivar Fava larga relataram a existência de grande conteúdo de amido (mais de 50% da massa seca) na leguminosa, sendo que 54% representam açúcares neutros como xilose, presente na forma de polissacarídeos nas paredes da leguminosa, glicose (maior quantidade) e galactose.
Nos corpos proteicos é legítima a presença de glicoproteínas no guandu. O percentual de proteína bruta do feijão guandu varia entre 21,1 a 28,1% exibindo características químicas favoráveis. Em massa seca varia entre 19 a 24% conforme época, local de plantio e cultivares. Em relação a aminoácidos, apresenta alta concentração de lisina disponível e treonina, triptofano e os aminoácidos sulfurados (cistina e metionina) são considerados limitantes na leguminosa. A quantidade presente de lipídios no guandu é baixa, variando entre 1,1% a 1,4% da massa seca.
Em relação a outros nutrientes, estudos mostram a presença de potássio (1,01 a 1,22 dag.kg), cálcio (duas vezes maior que no milheiro), menor quantidade de magnésio comparado ao milheiro; enxofre, nitrogênio e fósforo. Apresentam grande variabilidade nas quantidades inibidoras de tripsina, da quimiotripsina e da alfa-amilase, apesar de exibirem baixa quantidade de taninos.
Valor nutricional - Composição por 100 g da porção comestível
Fonte: PROTA4U - Cajanus cajan (L.) Millsp.
Colaboração
- Karen Cordovil, Nutricionista (Rio de Janeiro, RJ), 2014.
Referências
- Universidade Federal de Lavras (2011): Fitoterapia na doença falciforme - Acesso em 15 de janeiro de 2019
- Tropical Forages: Cajanus cajan - Acesso em 15 de janeiro de 2019
- Plant Resources of Tropical Africa (PROTA4U): Cajanus cajan (L.) Millsp. - Acesso em 15 de janeiro de 2019
- Instituto Brasileiro de Florestas: Feijão-guandu - Acesso em 7 de fevereiro de 2016
- Associação da Medula Óssea: Doença Falciforme - Hemoglobinopatia - Acesso em 15 de janeiro de 2019
- Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG): Doença falciforme - Acesso em 15 de janeiro de 2019
- Centro de Pesquisa Agropecuária do Meio Norte (EMBRAPA CPAMN, 1994): Recomendações práticas para o cultivo do guandu para produção de feno - Acesso em 15 de janeiro de 2019
- Imagem: Wikimedia Commons (Author: Forest & Kim Starr) - Acesso em 15 de janeiro de 2016
- Imagem - Gandules / Pigeon Peas - Acesso em 13 de janeiro de 2013
- RIGOTTI, M. Plantas Medicinais: Botânica, Cultivo e Utilização. CD-ROM, 2a Ed. 2009.
- The Plant List: Cajanus cajan - Acesso em 15 de janeiro de 2019
GOOGLE IMAGES de Cajanus cajan - Acesso em 15 de janeiro de 2019