(*) Sergio Roberto Sigrist
Aquecimento global é assunto que causa apreensão devido aos impactos na oferta de alimentos, água, energia e outros recursos. Organismos e entidades governamentais e da sociedade civil alertam que nos próximos anos seremos cada vez mais pressionados por estiagens, secas prolongadas, chuvas e tempestades torrenciais. Tais eventos estão ocorrendo com frequência e tendem a continuar cada vez mais intensos.
O aquecimento global implica em subir a temperatura média máxima e também a temperatura média mínima. Essa perspectiva influi em melhoramento genético e fotossíntese, pois ocorrerá excesso de luz. Se a temperatura média mínima subir, espera-se aumento na quantidade de pragas.
A consequência mais trágica do aquecimento global, no entanto, é a escassez, falta de água. Isso ocorre porque o aumento da temperatura afeta o ciclo da água, provoca aumento da evaporação, altera a umidade do solo, o escoamento, o regime de chuvas e a sua disponibilidade para consumo.
A falta de água afeta a criação de animais, aves e nutrição mineral. Ervas daninhas começam a aparecer como invasoras. Acarreta mudanças no mapeamento de distribuição de culturas. O milho, terceiro cereal mais importante depois do arroz e do trigo, é exigente em água, provavelmente essa cultura será uma das mais afetadas.
Na hipótese de um futuro atemorizante, cabe avaliar o uso e reúso racional deste bem. É fundamental romper o conceito de que água é um recurso natural abundante, barato e acessível. É preciso separar o uso da água. A água utilizada em vasos sanitários não precisa ter o mesmo grau de pureza da utilizada no cozimento de alimentos ou no consumo direto.
Água doce existe em quantidade finita, é preciso conter o desperdício. Importante então é focar no reúso de águas residenciais, industriais e agrícolas. No segmento residencial, existem soluções práticas para reaproveitamento de água de chuveiro e da torneira em vaso sanitário. Já existem produtos no mercado destinados a esse fim.
No setor industrial há várias opções que estimulam o aproveitamento de águas pluviais de telhados ou pátios internos e tratamento de efluentes em atividades altamente consumidoras como lavagem automotiva, lavanderias, laticínios, frigoríficos, curtumes, indústrias alimentícias, de bebidas, sucroalcooleira etc..
Nas áreas agrícolas é possível adotar sistemas de irrigação a partir de esgotos adequadamente administrados.
Os órgãos públicos cumprem importante papel de indutor da conscientização e podem adotar medidas de curto prazo como conceder descontos para proprietários de imóveis que instalam sistemas de captação de água de chuva e de reúso de água.
É importante aprender com os erros cometidos no passado e empreender ações para que não perpetuem. Agressões de toda sorte ao meio ambiente são fartamente relatadas, principalmente nas atividades de mineração e desmatamento clandestinos, execução de loteamentos irregulares próximos a regiões de mananciais, derrubada da mata ciliar, emissão descontrolada de gases de efeito estufa, tudo isso certamente têm contribuído com o estado atual de calamidade.
(*) Elaborado durante Curso de Capacitação em Ecofisiologia Florestal (agosto/2014 a novembro/2014) na USP/ESALQ , Departamento de Ciências Florestais. Colaboração: Alexandre Vendemiatti, Técnico em Fisiologia Vegetal (Professor do Curso).