Newsletter - Edição abril 2009

Escrito em abril de 2009 - Editado em junho de 2014

Palavra ao Leitor

Caros amigos, as novidades desta vez são muitas e vai faltar espaço para relatá-las em detalhes. Desde o primeiro número imaginava que o ideal neste Boletim Eletrônico é reservar um espaço para colunas assinadas, preferencialmente trabalhos acadêmicos, ou seja, o interessado envia seu material com texto  pronto para publicação, sem necessidade de edição. O objetivo é motivar os colegas a elaborar textos originais, cabendo ao editor apenas a tarefa de formatar, seguindo alguns princípios de web design.

Com satisfação apresento aqui o primeiro artigo assinado "Uso da maçã na prevenção de doenças" e fico na expectativa de que doravante nossos colegas da extensa comunidade de "fitonautas" também utilizem esse espaço.

Como sempre, faço questão de valorizar o trabalho de amigos e colaboradores. Dessa vez coloco em destaque a obra "Plantas e Alimentos - O Caminho para a Boa Saúde", autoria de Cleuza Nascimento (Curitiba, PR).

Dos leitores, recebi vários emails dos quais destaco dois deles, sobre a melhor forma de consumo de chá. Lembro de que as respostas às dúvidas partem do time de colaboradores.

Também é abordado aqui a Fitogeoterapia, um método que associa argila (geo) sulfurosa às ervas medicinais (fito), tem surpreendido e apresentado resultados extraordinários no alívio de certas doenças crônicas.

Finalizando, destaque para o Projeto Sabedoria Popular, uma iniciativa que começa a ganhar evidência e pode ditar novos caminhos para a Fitoterapia.

Boa leitura!

Sérgio Roberto Sigrist


Carta do Leitor

#1 
Sérgio, por gentileza, preciso de uma orientação quanto ao uso do chá verde. Na dúvida se estou fazendo o uso correto, eu costumo ingerir os de sachê. Meu marido não consegue ingerir chá, porém ele também tem vontade de usar o chá verde. Gostaria de saber se as cápsulas têm o mesmo valor e qual é a dosagem correta. Desde já, agradeço. Angela Mendes (Rio de Janeiro, RJ).

RE: D. Angela, saúde verde clorofila! Sou médico (CRMBA 4631) e sempre que posso entro na conversa do fantástico Professor Sérgio e é o que estou fazendo agora. Chá Verde: o nome é chá. Então tome o chá feito com a folha comprada nas farmácias, que são vendidas em sacos e prontas para uso.

Uma ou duas colheres de chá da folha, meio copo de água quente - não precisa ferver - coloque em um copo ou recipiente de louça, não use plástico, alumínio ou outros metais a não ser copo de aço inoxidável de boa qualidade. Cubra durante cerca de 10 minutos, coe e tome na hora. Por favor não "mate" o chá com adoçante, leite e outras barbaridades para não tirar as suas propriedades medicinais. Tome várias vezes ao dia. Não tome na hora de dormir, pois algumas pessoas podem perder o sono.

Não aumenta a pressão arterial. Substitui o café. No caso do café use somente o coado com filtro de papel e, por favor, o descafeinado é pior para a saúde. Quanto as outras apresentações do chá, são produtos industrializados e mais nada! Em cápsulas deveria ser proibida a comercialização. Deixar a água quente agir sobre a folha é a maneira mais eficiente de auferir suas propriedades sem interferências estranhas. A cápsula tem princípios ativos? Se tiver realmente, a folha lá dentro tem seus princípios, porém em quantidades tão diminutas que deveria tomar centenas de comprimidos por dia. Além disso vai ingerir cápsulas vegetais em cuja composição composição entram substâncias químicas que devem ser evitadas (consulte o farmacêutico em qualquer farmácia de manipulação).

As cápsulas não são proibidas mas no caso do chá acho que devem ser evitadas pelos motivos citados. Mesmo assim é bom lembrar de que os princípios ativos são, na maioria dos casos, mais liberados com água quente, no nível de uso doméstico.

Se quiser tomar em cápsulas tome, mas agora já tem algumas informações. Quanto ao chá em sachê, pode ser usado sim e é muito melhor do que em cápsulas. Não esqueça porém de que o saquinho do sachê também tem no seu tecido substâncias químicas nocivas. Dizem que é tão pouco e é verdade, mas uma gota de água todo dia termina por transbordar o copo.

Resumindo, tome chá verde, veja a folha verde e confira o formato, coloque água quente e tome na hora. Se deixar para depois de algumas horas o oxigênio do ar, a temperatura e a luz ambiente também deterioram algumas das propriedades fantásticas do chá verde. Quanto ao gosto, é um problema para os viciados em café com açúcar, pão, manteiga, leite e requeijão. Tem de levar um tempo para acostumar. É só insistir e não jogar a camisa no chão. Por fim D. Angela "se a comida certa quiser comer, a senhora mesma lá na cozinha vá fazer e não se queixe pelo trabalho que dá pois com certeza vai gozar de mais saúde e bem-estar". Fernando Mascarenha (Salvador, BA)

#2
"Gostaria de saber se a versão dos chás de ervas em saquinhos vendidos em supermercados (camomila, erva-cidreira, boldo, hortelã, canela, erva-doce, carqueja etc.) têm os mesmos efeitos medicinais que os chás feitos com folhas frescas. Ou seja, exercem efeito terapêutico? E qual a quantidade e o melhor horário do dia para se consumir chás para efeito terapêutico? Obrigada! Fernanda Milena do Carmo Vieira (Divinópolis, MG)."

RE: Fernanda, chá de ervas em saquinhos não tem a quantidade suficiente de doses úteis de princípios ativos. Não é planta pura. Há terra, pedaços de insetos, gravetos etc. Muitos princípios ativos se perdem quando a planta é secada. Não se sabe há quanto tempo ficam expostas nos mercados e nem por onde andaram, se tomaram sol, ventos e/ou foram muito chacoalhadas nas viagens. Não se conhece a procedência e nem se a planta é a mesma que se relata. Estes saquinhos servem como beberagens, refrescos, tira-gosto apenas. Prof. Luis Carlos Leme Franco (Curitiba, PR).


Projeto Sabedoria Popular

Projeto Sabedoria Popular é uma ideia que está sendo discutida em alguns grupos de pessoas que trabalham na área de Fitoterapia e pela primeira vez é tornada pública neste Boletim. Tem por objetivo formar uma Comissão de âmbito nacional para analisar, investigar e estudar as curas naturais.

A Comissão poderá ser formada por professor, médico, biólogo, bioquímico ou profissional de outras áreas afim. A finalidade é preservar o conhecimento, valorizar as experiências e a vivência popular. Um exemplo simples de como seria a funcionalidade dessa Comissão: "D. Maria tem uma experiência com uma planta que cura enxaqueca." A Comissão atuará no sentido de averiguar em qual enxaqueca a receitinha da D. Maria foi eficaz, em seguida identificar a planta, a parte utilizada, a forma de preparo, a dosagem e o tempo de uso. Feito isso será testada em grupos com a mesma enxaqueca para confirmar se a tal receita é ou não eficaz. Se confirmar o trabalho em seus detalhes e testar a bioequivalência em humanos, a receita será registrada em um banco de dados como "receita comprovada".

Esse é um Projeto de amplo alcance e o sucesso depende do envolvimento de toda a comunidade. O primeiro passo deverá ser a coleta de assinaturas. Vários meios de coleta de assinatura podem ser usados, uma ideia é que seja através de um website, tal qual o modelo do Amazônia Legal. Após a coleta de assinaturas, essas serão apresentadas às presidências da Câmara e do Senado Federal, para que se inicie os estudos de viabilidade de implantação.

As ideias iniciais do Projeto Sabedoria Popular ficam então expostas aqui, e você assinante do site Plantas Medicinais, que tem acesso a este Boletim, poderá também dar sua contribuição. Voltarei a falar sobre esse Projeto nas próximas edições!


Fitogeoterapia
Texto adaptado do blog Ervas medicinais: o caminho para a longevidade e a saúde

O uso da lama medicinal foi muito divulgado na década de setenta, caiu em desuso, mas agora veio pra ficar, porque é uma alternativa eficaz, segura e barata.

Há um novo método denominado Fitogeoterapia, desenvolvido pela pesquisadora Cleuza Nascimento (Curitiba, PR), que pode trazer benefícios dessa ação medicinal, sem a necessidade de ir a locais que oferecem as lamas medicinais, geralmente caros e inacessíveis às pessoas de menor poder aquisitivo. E com uma vantagem: o indivíduo realiza o tratamento em casa.

A aplicação é no local da dor, não há necessidade de banhar o corpo todo para atingir os benefícios. A fitogeoterapia é o método que associa argila (geo) sulfurosa às ervas medicinais. Essa associação, cujos ativos dependem da indicação necessária a cada caso, aumenta o potencial de alivio e cura.

Têm surpreendido e apresentado resultados extraordinários no alívio das doenças crônicas. Centenas de pessoas tiveram melhoras de artrose, bico de papagaio (osteofitose), bursite, esporão de calcâneo, fibromialgia, hérnia de disco e tendinite. É um ótimo coadjuvante no tratamento das doenças osteoarticulares e musculares.

Todo indivíduo em alguma fase de sua vida vai ser acometido de alguma doença osteoarticular, que é uma decorrência do envelhecimento, mais comum após os 40 anos. Nem os mais avançados centros de saúde do mundo tem intervenções efetivas (osteoarticular envolve ossos, músculos, tendões e ligamentos).

Apesar de tanta evolução nos tratamentos, o que existe apenas alivia o sintoma. Nesses casos é comum o uso prolongado de antiinflamatórios, que podem levar a efeitos indesejados, ao passo que uma abordagem tão simples como a fitogeoterapia desinflama sem qualquer reação adversa.

Tantos benefícios obtidos com esse recurso terapêutico não podem mais ser ignorados. Os resultados mostram que a fitogeoterapia pode auxiliar na melhora de doença, no alivio de dores que afetam milhões de pessoas no mundo.

Esses resultados, justificam um empenho do Ministério da Saúde para instituir uma Comissão para avaliar os resultados obtidos com o método, já que ele pode ser utilizado conjuntamente com a terapêutica convencional.


Uso da maçã na prevenção de doenças
Marcelo Rigotti (Eng. Agrônomo

A maçã (Pyrus malus) é um dos frutos mais consumidos em todo o mundo tanto pelo seu sabor quanto pela sua durabilidade e versatilidade, sendo utilizada nos mais variados pratos e cardápios. O fruto é adstringente e laxante (Grieve, 1984; Launert, 1981). A casca, e especialmente a casca da raiz, é antihelmíntica, refrigerante e soporífico (Duke, 1985; Chopra, 1986). A infusão pode ser utilizada no tratamento de febres intermitentes e biliosas (Grieve, 1984; Chopra, 1986).

As folhas contêm até 2,4% de uma substância antibacteriana chamada floretina (Chopra, 1986). Esta substância inibe o crescimento de um grande número de bactérias gram-positivas e gram-negativas em uma concentração de 30 ppm (Chopra, 1986). Uma maçã madura crua é um dos alimentos mais úteis para ajudar no processo de digestão (Grieve, 1984).

O sumo de maçã reduz a acidez do estômago, tornando-o alcalino e assim corrige a fermentação ácida (Grieve, 1984). A maçã é também um excelente dentifrício, a ação mecânica de comer um fruto ajuda na limpeza dos dentes e gengivas (Grieve, 1984). A casca da raiz contém maior concentração de princípios ativos, que pode ser preparada na forma de chá. As folhas contêm um cristal encapsulado, isomérico com a floridizina, chamada isofloridzina. As sementes contém amigdalina. Também é utilizado como tônico cerebral (Gorsi & Shahzad, 2002).

O fruto e o suco da maçã diminuem os níveis de colesterol e triglicerídeos (Agnihotri et al., 1990).

Referências

  • AGNIHOTRI, S.; PACHORI, S. B.; PANTRY, D. N.; PANT, M. C. 1990. Effects of feeding Pyrus malus (apple) on serum lipid profile with especial reference to high and low density lipoprotein cholesterol levels in normal albino rabbits. Indian Journal of Clinical Biochemistry, 5, 91-94. 
  • CHOPRA. R. N., NAYAR. S. L. AND CHOPRA. I. C. Glossary of Indian Medicinal Plants (Including the Supplement). Council of Scientific and Industrial Research, New Delhi. 1986. 
  • DUKE, J.A. Handbook of Medicinal Herbs. Florida: CRC Press, 1985. 
  • GORSI, M. S.; SHAHZAD, R. 2002. Medicinal uses of plants with particular reference to the people of Dhirkot, Azad Jammu and Kashmir. Asian Journal os Plant Sciences, 1: 222-223. 
  • GRIEVE, A. A Modern Herbal. Penguin, 1984.
  • LAUNERT, E. Edible and Medicinal Plants. Hamlyn, 1981.

Extrair da planta a sua força curativa
No uso das ervas faltam informações confiáveis. Há muitas informações equivocadas em livros, revistas, sites 
e até mesmo em cursos de Fitoterapia. Um aspecto importante é o conhecimento de como extrair da planta sua força curativa, ou princípio ativo.

Existem várias formas de manipular uma planta e obter delas os princípios ativos desejáveis. Dizem que cascas e raízes devem ser fervidas e que as folhas e flores não devem ser fervidas. Isso não é regra, há plantas que, independentemente da parte usada ser a folha ou a flor, precisam ser fervidas para desprender seu princípio ativo, bem como há cascas e raízes que desprendem suas substâncias apenas vertendo água quente em cima.

Um exemplo disso são as folhas de espinheira-santa que precisam passar por um processo de decocção de 12 minutos para liberar seu princípio ativo, o tanino, diferente da maioria das folhas para as quais basta fazer uma infusão, colocando água fervente em cima e tampando.

Outro exemplo, a casca do barbatimão já libera seu tanino vertendo água quente; a raiz da valeriana nem precisa ferver para liberar os ativos.

Esses exemplos mostram que alguns conceitos devem ser investigados cientificamente. (CN)


Colaboraram nesta edição 
Cleuza Nascimento (Curitiba, PR), Fernando Mascarenha (Salvador, BA), Luis Carlos Leme Franco (Curitiba, PR), 
Marcelo Rigotti (Dourados, MS), Tarsila Sangiorgi Rosenfeld (São Paulo, SP). 

  Planta em destaque

Jujuba