Tamarindo, tamarindeiro

Nome científico: 
Tamarindus indica L.
Família: 
Leguminosae
Sinonímia científica: 
Tamarindus occidentalis Gaertn.
Partes usadas: 
Toda a planta.
Constituintes (princípios ativos, nutrientes, etc.): 
Compostos polifenólicos (procianidina, epicatequina, taninos poliméricos), ácidos orgânicos, pectina, vitaminas, minerais, flavonoides, xiloglucano.
Propriedade terapêutica: 
Antidiabético, antimicrobiana, antivenômica, antioxidante, antimalárico, cardioprotetor, hepatoprotetora, antiasmática, laxante, anti-hiperlipidêmico, afrodisíaco.
Indicação terapêutica: 
Cicatrização de ferida, dor abdominal, diarreia, disenteria, infestação parasitária, febre, malária, problema respiratório, úlcera, furúnculo, erupção cutânea, asma etc.

Nome em outros idiomas

  • Inglês: tamarind, indian date
  • Francês: tamar indien, tamarainer, tamarin
  • Alemão: tamarinde, indische dattel, sauerdattel
  • Italiano: tamarindo
  • Espanhol: tamarindo

Origem, distribuição
A origem do tamarindo é incerta já que é cultivada no leste do Mediterrâneo desde o século IV aC. Acredita-se que seja nativa da África tropical e Madagascar.

Descrição [2,5]

A árvore do tamarindo pode atingir uma altura de 30 m. 

As folhas têm de comprimento de até 15 cm, são compostas de numerosos folhetos que fecham à noite, dispostos em pares ao longo de um eixo central.

As flores têm cerca de 2,5 cm de diâmetro, 3 pétalas em tom dourado com um padrão de veias vermelhas e duas pequenas pétalas, pouco visíveis, em forma de fio. Formam inflorescências de até 20 cm de comprimento.

Os frutos são pendulares, de cor marrom. As vagens têm formas alongadas, retas ou curvas, com extremidades arredondadas parecida com "linguiça" ou "salsicha", contém de 1 a 10 sementes em seu interior. Essas são duras, brilhantes, avermelhadas, castanhas ou púrpuras, achatadas, de formato irregular. 

A polpa ácida do fruto pode ser comida crua ou utilizada como ingrediente de molhos, conservas, produtos de confeitaria e bebidas fermentadas. As sementes podem ser comidas cruas ou cozidas.

A árvore fornece madeira, lenha, carvão vegetal. Pode ser usada como corante e ornamental.

Uso popular e medicinal
Na medicina tradicional é usado na cicatrização de feridas, dores abdominais, diarreia, disenteria, infestação parasitária, febre, malária e problemas respiratórios. É comumente usado em países tropicais por causa de suas propriedades laxativa e afrodisíaca.

A casca é adstringente e tônico e suas cinzas podem servir internamente como digestivo. Incorporado em loções ou cataplasmas, a casca pode aliviar feridas, úlceras, furúnculos e erupções cutâneas. Pode ser administrada como uma decocção contra asma e amenorreia e como antipirético. 

Os extratos de folhas exibem atividade antioxidante no fígado, são tidos como ingrediente comum em medicamentos redutores cardíacos e de açúcar no sangue. Folhas jovens podem ser utilizados em compressas quentes em reumatismo, aplicada a feridas e chagas ou administradas como um cataplasma para a inflamação de articulações, reduzir o inchaço e aliviar a dor.

A decocção adoçada das folhas é indicada contra infecção de garganta, tosse, febre e vermes intestinais. O suco filtrado quente de folhas jovens e um cataplasma das flores são usadas para a conjuntivite. A polpa pode ser utilizada em massagem para tratar o reumatismo, como um refrigerante ácido, um laxante suave e também para tratar o escorbuto. Em pó as sementes podem ser dadas em casos de disenteria e diarreia [4].

Uma revisão de literatura realizada entre 1978 e 2013 cita mais de 50 artigos sobre os benefícios do tamarindeiro na saúde humana: sistema gastrointestinal e doenças relacionadas, características antimicrobiana, antiparasitário, antifúngico, antiviral, antinematoidal, anti-inflamatório, antioxidante, antidiabético, efeitos sobre o sistema cardiovascular, protetor do fígado, controle de obesidade e efeito sobre a toxicidade por fluoreto [1].

Sistema gastrointestinal e doenças relacionadas

Serve como laxante devido ao alto teor de potássio, ácido málico e ácido tartárico. As folhas são indicadas para diarreia, o fruto para constipação e partes moles da casca e da raiz para dor abdominal.

Em úlceras pépticas (lesão na camada mucosa do esôfago, estômago ou duodeno) as sementes de tamarindo tem efeito protetor devido a presença de compostos polifenólicos (principalmente procianidina, epicatequina e taninos poliméricos). Tais compostos têm efeito antioxidante e função protetora contra os radicais livres. Os taninos também previnem o desenvolvimento da úlcera por causar acúmulo de proteína e vasoconstrição.

O fruto (tamarindo) tem efeito espasmolítico, causa relaxamento da musculatura lisa através do bloqueio do canal de cálcio, o que explica também a sua utilização no tratamento da diarreia.

Características antimicrobiana, antiparasitário, antifúngico, antiviral e antinematoidal

O extrato do tamarindeiro tem propriedades antibacterianas contra Burkholderia pseudomallei, Klebsiella pneumoniae, Salmonella paratyphi, Bacillus subtilis, Salmonella typhi, Escherichia coli e Staphylococcus aureus. O efeito antibacteriano desta planta está relacionada com o seu conteúdo de lupeol (um triterpeno pentacíclico).

O extrato da casca mostrou 25% de efeito químico inibitório sobre Salmonella typhi. Na presença ou ausência de fito-hemaglutinina, o extrato mostra efeito em doenças linfoproliferativas. É comumente utilizado em estados infecciosos (incluindo a malária), estimula o sistema imunológico e age sobre parasitemia (quantidade de parasitos presentes na corrente sanguínea). 

Estudos do extrato da casca e da folha mostraram a eficácia como agente antiparasitário. O fruto (tamarindo) é usado como um antipirético e as folhas no tratamento da malária. O potencial efeito antifúngico do fruto foi demonstrado contra Aspergillus niger e Candida albicans. Relatou-se que o extrato da árvore tem propriedade antiviral contra viruses mosaico da melancia, do feijão e do tabaco; tem propriedade antinematoidal contra Bursaphelenchus xylphilus; e propriedade moluscicida (devido ao teor de saponina) contra Bulinus trancatus.

Efeito anti-inflamatório

O efeito anti-inflamatório das folhas, sementes e outras partes do tamarindeiro tem sido mostrado porém não é considerado tão forte quanto o de outras substâncias (por exemplo, ácido acetilssalicílico). O efeito analgésico também foi mostrado em tipos de estímulos que causam dor: térmico, mecânico e químico. 

Propriedade antioxidante

As propriedades antioxidantes de sementes e folhas foram amplamente demonstradas devido a presença de compostos fenólicos.

Alimentos e bebidas ricos em fenol como vinho tinto, semente de uva, chá-verde e tamarindo têm efeito hipolipemiante, antiaterosclerótico, antioxidante, anti-inflamatório e imunomodulador. O fruto é rico em ácidos orgânicos, pectina, vitamina, minerais, polifenóis e flavonoides. O alto teor de polifenóis nas sementes e frutos tem efeito regulador sobre neutrófilos (células do sistema imunológico).

Efeito antidiabético

O extrato das sementes mostra efeito protetor contra ilhotas pancreáticas (ou Langerhans) que produzem as células ß (insulina) devido as suas propriedades anti-inflamatórias, a regulação da glicose no sangue e a inversão de danos ao tecido pancreático.

Efeitos sobre o sistema cardiovascular

O fruto é rico em polifenóis e flavonoides. Sabe-se que a ingestão de flavonoides de frutos e vegetais têm efeito benéfico na saúde cardiovascular. O tamarindo mostra propriedade antioxidante hipocolesterolêmico (reduz o colesterol no sangue) através do aumento de Apo-A1, ABCG5 e expressão do gene dos receptores de LDL no fígado, diminui a HMG-CoA redutase (via metabólica que produz o colesterol) e inibe a expressão do gene MTP. Ele aumenta a excreção do colesterol, diminui a biossíntese de colesterol, aumenta o consumo de colesterol - LDL de tecidos periféricos e impede a acumulação de triglicérides no fígado. Previne também danos oxidativos do colesterol - LDL, o principal fator de risco da aterosclerose.

As sementes mostram efeito antioxidante através do conteúdo de seus flavonoides, taninos, polifenóis, antocianinas e proantocianidinas oligoméricas. 
Os polissacarídeos isolado das semente mostram efeito imunomodulador através do aumento da fagocitose (processo pelo qual partículas estranhas ao organismo são ingeridas e destruídas por fagócitos), inibição da migração de leucócitos e diminuição da proliferação de células. A diminuição de triglicérides deve-se ao conteúdo de epicatequina do extrato. Este composto aumenta o total de ácidos graxos, esteróis neutros e ácidos excretados via fezes, mostrando assim o seu efeito hipolipemiante.

Sementes e frutos são sugeridos como suporte nutricional em pacientes com alto nivel de colesterol no sangue.

Efeito protetor do fígado

Álcool e outros produtos químicos, biológicos, toxinas ambientais e muitos outros fatores estão relacionados com doenças do fígado, um grande problema de saúde pública. A apoptose (morte celular programada, quando a célula é estimulada a acionar mecanismos que culminam com sua morte) é o principal mecanismo na maioria das doenças do fígado. Folhas da árvore de tamarindo exibem ação antiapoptótica e protetora do fígado, causando estabilização da membrana e diminuição do consumo de glutationa.

Efeito no controle de obesidade
Os flavonoides e polifenóis do tamarindo podem ser responsáveis pela redução de peso. Considera-se que esse efeito seja devido ao aumento da transmissão dopaminérgica, regulação do metabolismo lipídico e diminuição do nível de leptina no plasma. A leptina é um hormônio produzido pelas células gordurosas, um dos responsáveis por regular o metabolismo, apetite e peso corporal. Ela atua no hipotálamo, bloqueando a sensação de fome.

Efeito sobre a toxicidade por fluoreto
O fluoreto (forma iônica do fluor) pode ser prejudicial à saúde dependendo da quantidade. Acima do limite estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (entre 0,5 - 1,0 mg / L) pode causar toxicidade. Esse é um problema de saúde global, estima-se que na Índia mais de 60 milhões de pessoas são afetadas.

O fluoreto pode ser encontrado em alimentos, cremes dentais, antissépticos bucais, suplementos dietéticos, inseticidas e venenos mas é especialmente encontrado na água potável. Ocorre que a água potável já contém fluoreto, mesmo sem se adicionar nada a ela. Essa questão - fluoretar / não fluoretar a água - divide governos de vários países, alguns adotam e outros não adotam a fluoretação.

O consumo excessivo de fluoreto altera a expressão do gene, o ciclo celular, a proliferação celular, a migração celular, tem efeito negativo sobre a respiração, metabolismo, permuta iônica e nas mudanças no nível celular (secreção, endocitose, apoptose, necrose).

O stress oxidativo também pode causar problemas metabólicos. 

Veja ao lado nota sobre fluorose, um transtorno causado pelo excesso de flúor.

O flúor ingerido é rapidamente absorvido pela mucosa do estômago e do intestino delgado. Sua via de eliminação são os rins, responsáveis por eliminarem 50% do flúor diariamente ingerido, o que sobra tem que encontrar refúgio em alguma parte do corpo, que geralmente é junto ao cálcio de algum dos tecidos conjuntivos.

Como os dentes e os ossos são os maiores reservatórios de cálcio, é para lá que o excesso de flúor tende a se dirigir, passando a deformá-los e a provocar o que cientificamente se conhece como fluoroseAs disfunções renais, ao impedirem a perfeita eliminação do excesso de flúor, fazem aumentar os riscos da fluorose [7].

O extrato das folhas de tamarindo melhora o efeito da toxicidade por fluoreto através das propriedades antiperoxidante e antioxidante.

O extrato do fruto diminui a concentração de fluoreto no plasma e melhora os danos induzidos no fígado e nos rins. Também já foi demonstrado que após alguns procedimentos o fruto pode ser eficazmente usado na limpeza de flúor, níquel e chumbo da água potável.

Outros efeitos do tamarindeiro

Pele e nervos. O xiloglucano (um polissacarídeo extraído das sementes do tamarindo) é indicado como um composto aditivo natural em protetores solares, já foi mostrado que ele tem efeito protetor contra danos de raios ultravioleta. Esta substância atua como meio adequado na reparação de nervos.

Cicatrização de feridas. Existem relatos de que aplicação local de misturas de folhas e cascas da árvore sobre feridas ajuda da cicatrização.

Olho. Devido a suas propriedades mucoadesivas, o polissacarídeo da semente é usado em colírios para aumentar a sua eficácia. A mistura com ácido hialurônico é utilizada na xeroftalmia (olho-seco, não-produção de lágrima, doença causada por deficiência de vitamina A) e, com o auxílio de um remédio chamado "timolol", na diminuição da pressão intraocular. Essa mistura tem também efeito na cicatrização de feridas da córnea especialmente após procedimento cirúrgico.

Asma e tosse. O tamarindo pode ser eficaz contra asma e tosse alérgica devido aos seus efeitos anti-histamínico, adaptogênico e estabilizador de mastócitos.

Outros usos [2]
A polpa e a semente de tamarindo são amplamente aceitas como fontes baratas de matérias-primas para fins industriais. Uma pequena porcentagem das sementes sob a forma de pó (TKP, tamarindo kernel pó) é usada no setor têxtil ou indústria de papel.

A excelente característica geleificante da semente descascada e em pó pode levá-la a várias aplicações em alimentos e indústrias farmacêuticas, que são evidenciadas pelo elevado número de trabalhos de pesquisa. 

Concentrados de proteínas também foram feitos de TKP. As proteínas isoladas ou TKP podem ser usadas para preparar geléia e fortificar pães e biscoitos. A semente de tamarindo em pó pode ser suplementada com outras sementes de leguminosas para preparar alimentos nutritivos e balanceados. Sementes descascadas de tamarindo contêm de 46 a 48% de substância formadora de gel. Os polissacarideos de sua semente podem se gelatinizar, em concentrações de açúcar, mesmo em água fria ou leite. Diferentemente de frutos que contém pectina, polissacarídeos de sementes de tamarindo podem formar géis sobre uma vasta gama de pHs, incluindo neutro e condições básicas.

Extratos do revestimento da semente do tamarindo possuem boas propriedades antioxidativas. Considerados subprodutos do tamarindo em pó, tais extratos podem ser usados como fonte de baixo custo de antioxidantes em alimentos contendo lipídeos, óleos e gorduras.

Líquidos extraídos de cascas de tamarindo podem garantir a saúde bucal por conter inibidores de glucosil-transferase, os quais impedem desenvolvimento de cáries dentárias. Além disso, oligossacarídeos derivados de sementes de tamarindo podem ser usados para produzir doces de baixa caloria, pastilhas, mistura para bolos e biscoitos, sobremesas lácteas congeladas, barras nutritivas, assados e sobremesas geleificadas.

Valor nutricional por 100 g da porção comestível [6]

Fruto de tamarindo cru (in  natura)
Principais Minerais Vitaminas
Umidade g 31.40 Cálcio mg 74 A   RAE µg 2; UI 30.000
Energia 239.00 kcal Magnésio mg 92.00 Tiamina (B1) mg 0.428
Proteína g 2.80 Selênio µg 1.30 Niacina (B3) mg 1.938  
Lipídeos total (gordura) g 0.60 Fósforo mg 113.00 Ácido pantotênico (B5) mg 0.143 
Colesterol mg 0 Ferro mg 2.80 Piridoxina (B6) mg 0.066
Fibra alimentar g 5.1 Zinco mg 0.10 Folato DFE µg  14
Carboidrato g 62.50 Sódio mg 28 Ácido ascórbico (C) mg 3.500
Açúcares (total)  38.80 Potássio mg 628  Alfa-tocoferol (E) mg 0.10
  Cobre mg 0.86  Filoquinona (K) µg 2.8

 Dedicado a Mônica Pesciotto de Carvalho (Votuporanga, SP), 2015.

 Referências

  1. Science Direct (Asian Pacific Journal of Tropical Biomedicine, 2014): Tamarindus indica and its health related effects - Acesso em 30 de agosto de 2015
  2. SALGADO, J. M. Sementes de tamarindo. Jornal Gazeta de Piracicaba - Caderno Nutrição & Saúde, Piracicaba (SP). 2010.
  3. Revista Árvore (2010): Caracterização morfológica de frutos e sementes e desenvolvimento pós-seminal de Tamarindus indica L. (Leguminosae: caesalpinioideae) - Acesso em 30 de agosto de 2015
  4. World Agroforestry Centre (2009): Tamarindus indica - Acesso em 30 de agosto de 2015
  5. Royal Botanics Garden (KEW): Tamarindus indica - Acesso em 30 de agosto de 2015
  6. United States Department of Agriculture: Tamarinds raw - Acesso em 30 de agosto de 2015
  7. Flúor na água, não! - Acesso em 30 de agosto de 2015
  8. The Plant List: Tamarindus indica - Acesso em 30 de agosto de 2015

GOOGLE IMAGES de Tamarindus indica - Acesso em 30 de agosto de 2015